Uma das maravilhas que a Astrologia nos proporciona (e de certa forma, nos devolve) é a contemplação do céu. Dificilmente alguém não se encante pela luz das estrelas e dos planetas em uma noite estrelada. A paisagem celeste nos acompanha desde tempos remotos, seja pela observação direta a olho nu ou através da expressão artística em poemas, romances, filmes e fotografias. Assim como a fotografia capta a luz em momentos e condições específicas para criar histórias visuais, a astrologia capta a luz dos planetas, dando-lhes significado. O princípio luminoso é a essência e fundamento da astrologia; o Sol, como única estrela com luz própria, faz com que os demais corpos celestes tornem-se visíveis por meio do reflexo de sua luz. Nesse sentido o Sol dá vida aos planetas, aos nossos olhos.
Ao longo dos milênios, astrólogos dedicaram-se à observação e estudo do movimento dos astros. E o que eles observavam? A movimentação dos astros através do reflexo de suas luzes. Assim foi possível o desenvolvimento de toda a Astrologia. O mapa astral é frequentemente comparado a uma fotografia do céu no momento do nascimento, destacando a dependência da luz para capturar imagens celestes.
Contudo, esse fundamento essencial e constitutivo da própria Astrologia e seu conjunto de técnicas parece ter se perdido na mesma medida em que se acenderam as luzes da modernidade. Nas cidades cosmopolitas tornou-se desafiador observar os planetas a olho nu. A experiência de contemplar o céu deu lugar à observação por meio de dispositivos técnicos como lunetas e telescópios. A luz, tão intrínseca às técnicas astrológicas e a própria formação do saber astrológico, parece ter perdido a centralidade para a grande maioria dos praticantes dessa arte milenar, pelo menos aos praticantes da astrologia moderna, menos devido aos próprios alunos e professores, e mais devido à interrupção na cadeia de transmissão desse saber que, felizmente, de algumas décadas para cá, vem sendo recuperado.
Os Aspectos são exemplos da centralidade que a luz tem na astrologia. Em latim, “aspecto” significa “ato de olhar, observar, ver”. Eles ocorrem quando um planeta “olha” para outro, estabelecendo entre eles uma conexão. A luz do Sol refletida nos planetas é crucial para a visibilidade, uma vez que nos permite capturar suas imagens a partir da Terra, da mesma forma como um fotógrafo só é capaz de capturar uma imagem na sua câmera com a presença da luz, nem que seja um fiozinho dela, como aquele observado na Lua, momentos após o novilúnio.
Agora, ao explorarmos o conceito de “Cazimi”, termo árabe que significa estar no “coração do sol”, é interessante compreender alguns fenômenos. Aquele brilho intenso que surge no céu antes do amanhecer e após o pôr do sol acontece devido a uma peculiaridade dos raios solares. Quando o sol desce 17º abaixo da linha do horizonte a oeste durante o pôr do sol, ocorre o crepúsculo. De maneira similar, pela manhã, antes do nascer do sol, testemunhamos a aurora, quando o sol está cerca de 17º abaixo da linha do horizonte a leste. Por que é relevante pensar nesses fenômenos? Simplesmente para termos uma noção dessa distância em graus e compreender os efeitos da luz na paisagem do observador. À medida que um planeta se aproxima do Sol, entrando nesse espaço de 17º, dizemos que está “Sob-os-Raios do Sol”.
Ao avançar e penetrar no orbe de 8º de distância do Sol, o planeta fica na condição de “Combustão”, um estado de debilidade em que é ofuscado pela luz do sol. Lembremos da impossibilidade de olhar diretamente para o astro-rei. A intensidade de seu calor “queima” e resseca o planeta, restringindo sua expressão no mapa astral e ficando sob forte condicionamento dos assuntos que o Sol representar naquele mapa. A analogia com a insolação em seres humanos, onde a exposição prolongada ao sol gera desconfortos físicos, pode ajudar a compreender essa debilidade planetária. Para ilustrar, veja os sintomas da insolação em humanos: pele quente, avermelhada e seca, queimaduras de sol, dor de cabeça intensa, tontura, náuseas, enjoos, vômito e diarreia, batimentos cardíacos e respiração acelerados, dificuldade de respirar, desmaios e fraqueza, confusão mental, muita sede, boca e olhos secos, ausência de suor. Agora, imagine um planeta em situação análoga. Independentemente do que esse planeta represente no mapa astrológico, enfrentará alguma dificuldade na forma como se expressa e atua.
Mas na combustão existe uma outra condição especial de conjunção ao Sol chamada “Cazimi”. Quando um planeta faz uma conjunção exata com o Sol, com um orbe de até 17’ minutos, ele está no coração do Sol, potencializado e dotado de grande poder. Sendo o Sol o grande astro da luz como vimos até agora, o planeta nessa condição ganha visibilidade. Para compreender plenamente o Cazimi, é vital considerar as dignidades essenciais do planeta, que podem resultar em projeção, quando dignificado, ou em dificuldades, quando debilitado. Este fenômeno adiciona camadas de significados na interpretação de um mapa astrológico, moldando a expressão dos planetas envolvidos.
Esses fundamentos da astrologia podem ser novidade para quem vem de uma formação na moderna/contemporânea, como foi o meu caso. Espero que estas informações ajudem a aprofundar o entendimento da astrologia, agregue na prática astrológica e possa inspirar, nem que seja um pouquinho, a vocês olharem para os planetas com novos olhos, apreciando a luz que brilha lá do céu e que nos dá significado aqui na Terra.
Com carinho,
Grazi